Country Day de Viva a Vida é uma Festa

Hoje comemoramos 2 anos da estreia nacional de Viva – A Vida é uma Festa (Coco), e para celebrar a data, vamos contar para vocês como é participar de um dia de imprensa no estúdio!

O Pixar Brasil Blog foi convidado a participar, em 18 de setembro de 2017, nos estúdios da Pixar Animation em Emeryville (California/EUA) do Country Day | Latin America de Coco / Viva – A Vida é uma Festa. E vou contar para vocês como foi participar pela primeira vez de um evento como esse. =)

O Country Day é o dia do país no estúdio, um dia onde são reunidos jornalistas de um mesmo país ou de países vizinhos (no nosso caso o dia de imprensa reuniu jornalistas e veículos da América Latina), para aprendermos um pouco mais sobre como o filme foi realizado.

No nosso caso, em um dia inteiro de atividades no estúdio, aprendemos sobre as mais diversas etapas de produção assistindo “palestras”, conversando com as equipes e até participando de um workshop.

• Exibição de 35 minutos iniciais de Coco 


Nosso dia no estúdio começou com a exibição dos primeiros 35 minutos de Viva – a Vida é uma Festa no cinema Steve Jobs. Naquele período o filme estava em fase de conclusão e a versão apresentada tinha sido recém finalizada. =)

Como não ficar de queixo caído com a primeira parte do filme? A apresentação da familia Rivera, a história de Ernesto, Dante, o evento do cemitério, a ida ao mundo dos mortos pela ponte de pétalas, os Rivera no mundo dos mortos, o aparecimento de Hector, até a chegada de Pepita! Nossa… 35 minutos que passaram voando. E a vontade de continuar assistindo ao filme?

• Mesa-redonda com os Cineastas 

A segunda atividade do dia foi uma mesa-redonda com o diretor Lee Unkrich e com a produtora Darla K. Anderson. Durante a conversa, que durou 25 minutos, o diretor e a produtora responderam perguntas sobre a produção e comentaram algumas curiosidades do filme.

• Logo após a finalização de Toy Story 3, Lee Unkrich apresentou para o presidente da Pixar, John Lasseter, 3 possíveis ideias para novos filmes. Uma das propostas era um filme inspirado pelo feriado mexicano do Dia de Los Muertos; e essa foi a ideia que recebeu luz verde do chefe do estúdio para que Lee e Darla seguissem em frente.

• A questão familiar, tão presente no filme, surgiu nas primeiras viagens de pesquisa ao México. Os realizadores perceberam que as tradições familiares e a memória eram parte indispensável e fundamental para a construção da história, assim como na vida real.

• A dimensão política que o filme ganhou por sua estreia ter acontecido próximo às questões presidenciais nos EUA, contra os imigrantes, principalmente os mexicanos, não foi algo previsto pelos realizadores. Mas eles comentaram que acreditavam que era um momento importante de levantarem questões como essa, sem necessariamente tornar isso uma bandeira/uma causa a ser defendida. Eles identificaram na Arte e no Cinema, uma oportunidade de mostrar ao mundo a importância de reconhecermos diferentes culturas e que devemos nos inspirar e aprender com diferentes visões, uma vez que vivemos todos no mesmo planeta.

• Ao criar uma história de família, mostrando diversas gerações de personagens, os realizadores perceberam a necessidade de gerar no público a empatia. Era preciso que as diversas gerações de expectadores se vissem, se identificassem e se relacionassem com a história e com os personagens.

• Família é um tema Universal, mesmo que as pessoas não conheçam e não tenham se relacionado nunca com a temática de Dia dos Mortos, todos tem que lidar com Família. Família é família. Família é complicada. Família é interessante. Família é algo desafiador. Família faz você crescer e amar. Família é Universal. Todos se relacionam com família de alguma maneira. Suas complicações, seu amor, o lado divertido e até mesmo os problemas familiares.

• Coco/A Vida é uma Festa é uma carta de amor ao México, mas os produtores queriam uma história universal, em que todo o mundo pudesse se reconhecer.

• Nós sabíamos que a morte ia ser parte da história, afinal o filme era baseado no Dia dos Mortos, o conhecimento de que a morte acontece está incorporando ao filme. Mas ao mesmo tempo não queríamos fazer um filme que confrontasse essa ideia. O modo como vemos isso é que a morte faz parte da vida, é algo que não podemos evitar.

A ideia central do filme para nós era entender a importância de lembrarmos daqueles que estiveram por aqui antes de nós, e em certo grau nós somos quem somos por essas pessoas terem nos criado. Mesmo pessoas de algumas gerações antes da nossa, pessoas que nunca vimos ou mesmo conhecemos, exercem alguma influência sobre nós. Essa era a ideia que queríamos explorar no filme… sobre o que poderia acontecer caso tivéssemos a oportunidade de encontrar com essas pessoas? Era sob essa perspectiva que vemos o filme. Não queremos ensinar sobre a morte e sim tentar entender de onde viemos, nossas origens e nossa família. Tudo isso sob o prisma da cultura mexicana que mostra esse aspecto que devemos lembrar dos nossos antepassados, de maneira alegre e festiva.

Perguntamos para Darla Anderson e Lee Unkrich: Qual foi o ponto mais desafiador no filme?

Darla: Desenvolver a história é sempre desafiador e complicado, pois trabalhamos com tantos diferentes aspectos na construção e no desenvolvimento dela que, quando temos a história definida, queremos que todos eles fiquem evidentes de alguma maneira.

Lee Unkrich: Desenvolver a história e descobrir qual a melhor maneira de contá-la é sempre a parte mais desafiadora de se produzir um filme.

Darla: Mas esse filme é imenso, com muitos personagens, com muitos cenários…

Pixar Brasil Blog: Com muitos detalhes…

Darla: Sim… muitos e muitos detalhes. Então, sempre tentamos prever, priorizar e organizar esses detalhes desde muito cedo na produção, para que eles possam ajudar a contar a história do filme. As pessoas no estúdio estão tão apaixonadas por esse filme que estão dedicadas em fazer o máximo possível para inserir o máximo possível de detalhes nessa produção, nos mais diversos aspectos como nos cenários, personagens, animação, simulações de efeitos. As pessoas estão trabalhando com tanta dedicação que para nós é importante que todos possam ter seu espaço para contribuir e se expressar no filme.

Lee Unkrich: Para mim, definitivamente é a história, sempre é. É sempre o mais difícil, não importa quantos filmes de sucesso você tenha feito, a cada vez que temos que começar a trabalhar em um filme novo é sempre difícil. E esse filme é especialmente complicado pois não só pensar na história é difícil, mas porque temos também essa camada cultural que queremos ser respeitosos e precisos ao representá-la. Esse respeito e essa acuidade tinha que estar presente em todas as decisões e escolhas que precisamos fazer ao realizar o filme e conduzir a sua história. Tínhamos que navegar sempre por esses aspectos do respeito e da acuidade cultural, e isso tornava nossas decisões mais difíceis.

E junto com tudo isso tínhamos muitos personagens, cenários gigantes, multidões para serem animadas… é um grande escopo para essa história. É uma aventura… é uma jornada, com muitos cenários e diferentes locais, e fazer tudo isso dentro do prazo e dentro do orçamento que temos, torna-se difícil. Tudo o que queremos é garantir que o espectador tenha diversos momentos UAU!, apresentando um filme espetacular. Tivemos que descobrir como fazer tudo isso acontecer. Tudo isso é um grande desafio, mas a história é sempre o maior deles.

• Pepita e Dante – Um olhar mais próximo 

Nossa terceira atividade do dia, falou um pouco mais sobre aqueles que descobriríamos serem os mais queridos personagens do filme (pelo menos para mim!): Pepita e Dante.

No mundo dos mortos, Miguel e seu companheiro fiel Dante, encontram não só os ancestrais do menino, mas também a leal guardiã deles Pepita, uma criatura mágiva baseada no artesanato e no folclore mexicanos. Nessa apresentação pudemos ouvir (e ver) como Dante e Pepita foram criados e trazidos à vida pela mágica da animação.

A apresentação contou com a participação de Alonso Martinez (Artista de Personagens), Nick Rosario (Diretor de Animação) e Christian Hoffman (Supervisor de Personagens) que explicaram a inclusão de Pepita, uma criatura mágica baseada no folclore mexicano do alebrije, na história de Coco/Viva – A Vida é uma Festa; e sobre a criação do personagem Dante, um cão da raça Xolo (Xoloitzcuintli), companheiro e guia de Miguel em sua jornada.

• Trazendo Esqueletos à Vida 

Na quarta atividade do dia, aprendemos como os esqueletos da Terra dos Mortos foram criados, imaginados, projetados, animados e até vestidos.

Na conversa com Daniel Arriaga (Diretor de Arte de Personagens), Gini Santos (Supervisora de Animação), Johnathan Hoffman (Lider da equipe de sombreamento de Personagens) e Emron Grover (Diretor Técnico de Simulação), foram apresentadas e explicadas as escolhas e dificuldades de transpor esqueletos às telas por meio de animação, o desenvolvimento e design dos personagens humanos na terra dos mortos e como vestir os esqueletos.

Daniel Arriaga iniciou a apresentação comentando que a primeira dificuldade do filme era levar para a tela personagens tradicionalmente assustadores como Caveiras, sem assustar os espectadores, e como fazer que tudo ficasse bonito e atraente.

Um outro desafio era quanto ao formato dos personagens, uma vez que muitos deles tinham sua versão “em carne e osso” e outra apenas em esqueleto. Como modelar essas duas versões dos personagens sem perderem suas característics de identificação?

Mas não podemos esquecer que estamos falando de esqueletos animados… que falam… e se movimentam. Enão uma outra questão que os artistas da Pixar tinham que resolver era sobre as articulações dos esqueletos. Como elas aconteceriam se não há músculos e carne para manter os ossos unidos?

Neste quesito o que mais preocupava aos artistas da Pixar era como lidar com a articulação da mandíbula… como fariam para os personagens articularem as palavras? A solução encontrada foi não ter a mandíbula separada do crânio. Além de manter a aparência menos assustadora, facilitaria muito aos animadores na hora de articular as palavras e as emoções das personagens por meio das expressões faciais.

Muitas das características de modelagem dos personagens, principalmente no mundo dos mortos, tinham que ser resolvidas por meio do vestuário. E, como manter a “forma” dos mortos, quando teoricamente seria apenas um tecido sobre ossos? Como manter aquilo atraente? =D

Gini Santos comentou que eles perceberam que talvez no mundo dos mortos os tecidos e as roupas deveriam ser mais leves que no mundo dos vivos, pois eles deveriam ficar um pouco mais afastados das juntas e ossos.

Esse era um outro problema a resolver. Como os ossos das personagens são afastados entre si, durante as simulações de animação, várias partes dos tecidos ficavam presas nesses espaços devido ao “peso” dos tecidos e à proximidade. =)

Perguntamos para a equipe: As roupas do mundo dos mortos possuem o mesmo tamanho das roupas que vemos no mundo dos vivos?

Resposta: Não, na verdade a maioria dos figurinos/roupas que vemos no filme possuem um tamanho no mundo dos mortos e outro tamanho no mundo dos vivos. O mesmo acontece com a modelagem dos personagens que possuem versões nos dois mundos.
As roupas no mundo dos mortos são menores que as que vemos no mundo dos vivos. Apenas alguns poucos personagens possuem o mesmo tamanho de roupa nessas situações diferentes.

Dessa forma também percebemos que uma das soluções encontradas para as diferenças entre a modelagem dos personagens nos dois mundos foi ter duas versões do personagem: uma humana e uma em esqueleto. Dessa forma conseguiam manter o design dos personagens mais coerentes e consistentes.

• A História Universal de uma Família 

O quinto evento do Country Day de Viva – A Vida é uma Festa, foi sobre a construção da história do filme. Como o time de produção se inspirou com pesquisas sobre o México e suas tradições culturais.

Jason Katz (supervisor de história) e Adrian Molina (Roteirista e Co-Diretor) explicaram sobre como eles uniram tantos detalhes da tradicional cultura mexicana na sua história fantástica baseada no Dia de los Muertos.

Para criar a história de Viva, a equipe realizou algumas viagens para o México e principalmente para a região de Oaxaca. Nessas viagens tudo é referência/inspiração. Visitaram inúmeros prédios, casas de famílias, cemitérios, sítios arqueológicos, monumentos, conheceram e viram apresentações de músicos e artistas, experimentaram diversas comidas típicas, fizeram workshops das mais diferentes atividades tradicionais da cultura mexicana; Papel Picado, Calçados e Alebrijes, apenas para citar algumas.

Tudo foi estudado e levado à tela da maneira mais precisa e respeitosa possível, com o intuito de construir uma história crível. Uma história de família… uma história de legado e tradições.

• O Mundo dos Vivos e o Mundo dos Mortos 

A sexta atividade do dia foi uma conversa conduzida por Harley Jessup (Designer de Produção), Chris Bernardi (Supervisor de Cenários) e Danielle Feinberg (Diretora de Fotografia e Iluminação) contou sobre como foram criados e construídos os “universos” do Mundo dos Vivos e do Mundo dos Mortos para o filme.

Harley Jessup contou sobre as viagens que a equipe realizou ao México para registro e pesquisa de referências de tudo que pudesse colaborar com a contrução do universo visual do filme. Texturas, cores, arquitetura, o tempo, detalhes de tudo que você possa imaginar foram registrados em milhares de fotos que serviram como referência e inspiração no desenvolvimento e criação do universo do filme.

Chris Bernardi, supervisor de cenários de Viva/Coco, contou como foram construídos os ambientes do filme, mas principalmente sobre a criação e arquitetura do mundo dos mortos.

Como vemos no filme o Mundo dos Mortos é composto por diversas camadas. Construído em diversas espirais o Mundo dos Mortos tem em sua fundação as estruturas arquitetônicas mais antigas das Civilizações Mesoamericanas, inspiradas pelo Monte Albán.

A medida que o tempo foi passando, cada nova ” geração” foi construindo uma camada acima. Por isso vemos no filme diversos guindastes que ainda auxiliam na construção do Mundo dos Morto. Dessa forma, nas espirais do Mundo dos Mortos, as partes superiores são mais recentes que as situadas abaixo delas, até as suas fundações.

Danielle Feinberg explicou como foi pensada a fotografia e a iluminação do filme e as diferenças entre o Mundo dos Vivos e o Mundo dos Mortos.

A primeira grande diferença é que no Mundo dos Mortos é sempre noite e isso já faz que a preocupação da iluminação seja ainda maior. Para você ter uma ideia, apenas na cena onde é apresentado o primeiro panorama do Mundo dos Mortos existem mais de 7 milhões de luzes.

O mundo dos Mortos tem uma ambiência mais etérea… tudo é iluminado, as cores são fortes e também luminosas, o ambiente é de festa, e não há iluminação natural.

Já no Mundo dos Vivos tem, sempre que possível, iluminação natural seja o Sol ou mesmo o Luar, nas cenas noturnas. Cores mais quentes e tons mais terrosos.


Perguntamos para Danielle Feinberg: O cenário do Cemitério de Santa Cecília foi o mais complexo de iluminar, devido às mudanças de luz durante o dia e durante a noite com as velas?

Danielle: Sim, foi complexo de iluminar, mas comparar o cenário do Cemitério de Santa Cecília com o que tivemos que fazer no Mundo dos Mortos, faz parecer que o trabalho foi até simples!

Mas sabíamos que o cemitério ia ser bem desafiador em função das variações de iluminação e de que queríamos que cada espaço do cemitério fosse especial.

Pixar Brasil Blog: Mas temos que considerar que o Mundo dos Mortos foi algo que vocês tiveram que criar do zero, sem referências, enquanto o cemitério de Santa Cecília foi inspirado e baseado em um cenário real, certo?

Danielle: Com certeza. Tivemos um grande trabalho no Cemitério, nos esforçando ao máximo para que ele pudesse parecer autêntico. Pois tanto nas cenas durante o dia, como nas cenas de noite, tinhamos que destacar e valorizar o ambiente de diverentes maneiras. Durante o dia temos luzes muito bonitas que valorizam as cores das flores e a paisagem verde.

• Como fazer um Alebrije 


A última atividade do dia foi participar de uma oficina para fazer o seu próprio Alebrije, conduzida por Alonso Martinez (Artista de Personagens), responsável pela criação da personagem Pepita, o Alebrije da Matriarca, a Tataravó Amélia, da família Rivera.

Tivemos uma explicação sobre a história dos Alebrijes no México e pudemos ver vários que formam a coleção pessoal de Alonso Martinez.

Durante a oficina, recebemos uma miniatura da Pepita, modelada por Alonso e impressa em uma impressora 3D, que personalizamos com as variadas tintas disponíveis.

Também tivemos o prazer de contar com a presença da artista e ilustradora Ana Ramirez Gonzáles (responsável pelas ilustrações do livro Miguel e a Grande Harmonia).

Foi um dia inesquecível… que terminou com uma visita na lojinha do estúdio… e a certeza de que aquele é o nosso lugar favorito no mundo!

Nosso muito obrigado à Pixar Animation Studios e a Walt Disney Brasil pelo convite para o evento de imprensa no estúdio!

<3

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